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Maternidade servil x Maternidade Potente


Por Anne Rammi

Maternidade Servil é o nome que eu estou usando para determinar o “status” político, social e econômico determinado para as MULHERES MÃES na “civilização” humana.

A Maternidade Servil é o exercício de um papel determinado para as mulheres mães. Passa pelo que chamamos de maternidade compulsória (no sistema de controle das nossas capacidades reprodutivas e exploração das mulheres como tecnologia de reprodução) e se expande para toda a existência da mulher mãe. Vocês sabem que a maternidade é um projeto de existência ETERNA para a mulher não é? Pois bem.

Domesticidade, culpa, candura, abnegação, subserviência, resignação, fidelidade… seriam algumas características desse conjunto de atitudes que determinam seu papel.

A Maternidade Servil é uma ferramenta de controle do patriarcado, porque submissas à cultura de dominação de metade da população mundial sobre a outra metade, mulheres mães estarão sempre, como grupo, imobilizadas de participação social, sub remuneraras e executando uma miríade de trabalhos não reconhecidos e invisíveis. Cansadas, ocupadas, doutrinadas ou alienadas demais para reconhecerem seu lugar de controladas.

Há muitas formas de manter a Maternidade Servil. Desde dogmas religiosos até as imagens da cultura pop. Poucas são as referências de maternidade fora desse espectro, ainda que felizmente estejamos em movimento.

Eu estou insistindo em cunhar o termo Maternidade Servil porque a maternidade em si não é uma ferramenta de controle do patriarcado. A Maternidade é uma faceta de potência da vida da mulher, em um estado ideal, e portanto, uma ferramenta potente CONTRA os estados de dominação de todas as ordens.

Essa vivência da maternidade é a Maternidade Potente. É o oposto pelo vértice da Servil. É o status da mulher mãe que reconhece seu papel importante na sociedade e tem consciência de seu poder e responsabilidade no sustentáculo de tudo que é vida humana desde que o mundo é mundo. É o conjunto de experiências ligadas à suprema consciência de si e do todo, despertada pela maternidade. Empoderamento, consciência, critica, questionamento, diálogo, horizontalidade, responsabilidade, generatividade… seriam características do conjunto de atitudes que determinam esse papel.

Na minha experiência de observação, contato, vivência pessoal e escuta de muitas e muitas mães ao longo dos últimos 10 anos, a maioria das mulheres se encontra em um estado prático de Maternidade Servil. Digo prático porque muitas delas já adquiriram a consciência do outro campo, a Maternidade Potente, mas por arquitetura do próprio sistema androcratico, não conseguem vivenciar a experiência na prática.

As mulheres mães portanto transitam entre o estado de servidão total e potência parcial, no limite do que para ela é permitido e evidentemente de acordo com os recortes específicos de raça, classe, etnia, capacidade e idade.

Meu trabalho árduo essa página, naquela outra página, nas rodas de conversa, nos grupos que participo e nos movimentos políticos que eu entro por teimosia, tem sido despertar nas mulheres a possibilidade de viverem a maior parte do tempo possível no campo da Maternidade Potente à partir de suas próprias reflexões disparadas por aquisição de consciência. E despertar nas pessoas em geral, mães ou não, a nitidez desse paradigma: a androcracia é RUIM para toda a humanidade e está fadada a extinguir a espécie humana na medida que mantém em servidão as origens da vida e toda sua manutenção, em culto à Violência e à dominação.

Sem utopias, somente uma sociedade onde as mulheres vivenciam na maior parte do tempo a Maternidade Potente e não a Maternidade Servil podemos mudar os rumos políticos, econômicos e sociais para a valorização do cuidado, das infâncias, das culturas, do respeito, da diversidade, fundamentalmente da paz.

Isso é extremamente revolucionário e não há registro na história da humanidade “civilizada” de um momento em que tenhamos, mães, sido efetivamente respeitadas em nossa potência.

Apesar de todos os pedidos de “mude de assunto”, “cala a boca” e “fale sobre assuntos de mãe”, além das ofensas que venho recebendo das MÃES que como eu tem apenas direito PARCIAL de viver a Maternidade Potente, eu debato política por essa razão. E vou continuar postando tudo que me der na ventana. Independência é característica de potência, como também é a liberdade.

Porque é debatendo política, reivindicando nosso PODER e RESPONSABILIDADE sobre nossa própria vida, capacidades reprodutivas, programas que nos dizem respeito e à nossos filhos é que quebramos o paradigma que nos condenou à invisibilidade e servidão.

Nos recusamos ao papel da Maternidade Servil para acessar a potência APENAS À PARTIR DE REFLEXÃO, DIÁLOGO e EXERCÍCIO DURO E DIÁRIO DE REVISÃO DE TUDO QUE APRENDEMOS.

Porque tudo que aprendemos nos foi ensinado pelo sistema que não vai nos permitir acessar a potência. Porque nossa potência destrói o sistema.

Vou terminar esse texto dizendo que cada vez que vocês tentam me silenciar porque eu me posiciono sobre política (à mim ou qualquer outra mãe ousada e corajosa que esteja fazendo isso), é como se eu recebesse um empurrão para dentro (de volta) do campo da Maternidade Servil, de onde eu nunca pude sair completamente. É o sistema androcrático usando a sua servidão para imprimir a minha.

Tente não cair nessa.

NADA SOBRE NÓS (e nossos filhos) SEM NÓS (e nossos filhos)

MULHERES MÃES NA POLÍTICA SIM

SE EU PARAR DE FALAR ESTOU PRESA NA SERVIDÃO (e vocês aí na potência venham me buscar por favor).

OU FUI EXILADA.

OU PIOR.

Vamos esperar que eu, e todas as mães que assim desejem, sigamos falando MUITO sobre política.

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